Entre egípcios, gregos e romanos, as
relações eram de vencedor e cativo, e vigoravam indiferentemente, mesmo
com povos a eles semelhantes. Durante toda a Idade Média,
a base do antagonismo entre povos era, sobretudo, de índole religiosa.
Graças à grande força política da igreja, justificava-se a conquista e
submissão de povos para incorporá-los à cristandade. Ainda quando dos
primeiros contatos entre portugueses e africanos, não havia nenhum
atrito de ordem racial.
Quando, a partir do Renascimento,
o progresso técnico permitiu à Europa dominar o mundo, surgiram
diversas ideologias que pretenderam explicar e justificar a dominação
dos demais continentes pelos países europeus, alegando existir na Europa
uma raça superior, destinada por Deus ou pela história a dominar as
raças não-européias, consideradas inferiores. A expansão espanhola na
América buscou sustentação ideológica em crenças tais como as de que os
ameríndios não eram verdadeiros seres humanos, o que justificaria sua
exploração.
O moderno racismo europeu encontrou
fundamento teórico na obra do conde de Gobineau, Essai sur l'inégalité
des races humaines (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas)
publicada em meados do século XIX. Nela, o autor francês sustentou que
a civilização européia fora criação da raça ariana, uma minoria seleta
da qual descendiam as aristocracias de toda a Europa e cujos
integrantes eram os senhores "naturais" do resto da população. Outro
paladino do racismo foi Houston Stewart Chamberlain, que, embora inglês
de nascimento, tornou-se conhecido como "antropólogo do kaiser".
Publicou na Alemanha, em 1899, Die Grundlagen des neunzehnten
Jahrhunderts (Os fundamentos do século XIX), obra em que retomou o mito
da raça ariana e identificou-a com o povo alemão.
Outros autores, como Alfred
Rosenberg, também contribuíram para criar a ideologia racista. Esta,
convertida em programa político pelo nazismo,
visava unificar os alemães, mas como a identificação dos traços
raciais específicos do povo de senhores era impossível na prática,
criou-se uma "raça inimiga" que unisse contra ela o povo alemão. A
perseguição dos judeus ou a escravização de povos da Europa oriental em
nome da superioridade da pretendida raça ariana resultou, por suas
atrocidades, na adoção pela opinião pública mundial de critérios
opostos ao racismo, a partir do final da segunda guerra mundial.
Os trabalhos de antropólogos e
sociólogos rejeitam globalmente as teorias racistas e a seu desprestígio
científico une-se a adoção, por todos os estados, de princípios como
os contidos na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Ao mesmo
tempo, nos países em que tradicionalmente se praticavam formas de
discriminação racial, os preconceitos
passaram a ser suavizados e se impôs uma igualdade de oportunidades
cada vez maior. Uma exceção à tendência geral, a partir de 1948, foi a África do Sul, onde se exacerbou a tendência à segregação dos grupos étnicos (apartheid)
sob o domínio dos sul-africanos de origem européia. Tal sistema
político racista chegou ao fim com a convocação das primeiras eleições
para um governo multirracial de transição, em abril de 1994.
Autoria: Márcia Regina Argente
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